terça-feira, 4 de maio de 2010

Uma cidade saudável

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Coimbra enche o peito de ar para falar de saúde. Debates e conferências, revistas, brochuras e discursos políticos, todos apontam para a nossa vocação como capital da saúde. Confesso que não tenho grande simpatia por esta ideia de que Coimbra deva elevar-se a “capital” do que quer que seja. Até porque o país – da saúde à chanfana – tem capitais que chegue. Apesar disso, concedo que a saúde possa orientar o desenvolvimento de Coimbra. Esse é, provavelmente, o nosso “filão” e um desafio que teremos de assuimir.

Apesar das resistências, as leis do mercado parecem ter tomado, razoavelmente, a política de desenvolvimento regional. E a verdade é que uma certa ideia de competição entre as cidades – mesmo quando temperada por filosofias de rede – se vem afirmando, de dia para dia. Nessa perspectiva, talvez a saúde seja mesmo o que nos diferencia, o que nos dá vantagem competitiva ante a vizinhança, mais ou menos próxima.

Sucede que a maior parte do que se tem dito e escrito sobre o assunto, umas vezes por distracção, outras por desconhecimento, quase sempre com enorme dose de voluntarismo, é curto no modo como perspectiva a saúde e o seu potencial para o desenvolvimento de Coimbra.

Os hospitais e o ensino da medicina; a generosa percentagem de médicos per capita; uma meia dúzia de alusões vagas à biotecnologia ou à indústria farmacêutica, fica por isto mesmo, sem grande consequência, o que temos dito a respeito. Nada que, inapelavelmente, nos distinga, nos dias de hoje, se olharmos bem em redor.

Num certo sentido, não parece que Coimbra queira ser a tal capital da saúde, parece mais que se pretende ver reconhecida como essa capital. Coisa que não promete grande progresso, antes aguarda um troféu, talvez mesmo uma pedra tumular com a inscrição “aqui jaz Coimbra, capital da saúde”.

Acredito que, hoje, a afirmação de Coimbra na saúde já não depende apenas das nossas infra-estruturas hospitalares, dos nossos especialistas e de alguns wishful thoughts, sobre a biotecnologia. Estamos, em tudo isso, demasiado próximos de outros players, como agora se diz. O passo em frente, far-se-á, talvez, integrando a saúde num verdadeiro projecto de desenvolvimento, e integrando-a em todos os aspectos desse projecto.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, um ambiente físico limpo e saudável; um ecossistema estável e sustentável; alto suporte social, sem exploração; alto grau de participação social; necessidades básicas satisfeitas; acesso a experiências, recursos, contactos, interacções e comunicações; economia local diversificada e inovativa; orgulho e respeito pela herança biológica e cultural; serviços de saúde acessíveis a todos; também, claro, alto nível de saúde, são as condições para que uma cidade se torne “saudável”. E é isto, provavelmente, que devemos perseguir. Uma cidade saudável, mais do que uma qualquer capital da chanfana…perdão, da saúde.