Coimbra tem destas coisas. Aparentemente "posta em sossego", como num "engano de alma ledo e cego", sobressalta-se quando menos se espera. Muitos dos que passaram pelo antigo Largo de Sansão, no passado fim-de-semana, sabem do que estou a falar.
A 8 de Maio de 1834, as forças liberais, comandadas pelo Duque da Terceira, marcharam sobre a cidade, libertando-a do obscurantismo de D. Miguel. A 8 de Maio de 1874 e em homenagem àquele feito, o dito Largo de Sansão passou a chamar-se Praça 8 de Maio. A 8 de Maio de 2010 – no último Sábado, portanto – um grupo de cidadãos devolveu à cidade, 136 anos depois, aquele pedaço da sua História.
Mas o que se passou não foi apenas a aposição de uma placa. Não foi - pelo menos no seu sentido mais vago - um ritual, dos que se destinam a soçobrar na imprensa, para entretenimento do povo e exaltação dos políticos. Exaltou-se, pelo contrário, um significativo quadro de valores, de resto, pouco condizente com a mais habitual, e minúscula, política. A liberdade e a justiça social, a democracia plena. Com o recato próprio de quem resiste a fazer delas palavras vãs ou a dá-las, simplesmente, por adquiridas.
Há um longo caminho a percorrer, na luta pela cidadania inteira, mas a verdade é que estas comemorações do 8 de Maio fazem lembrar uma Coimbra que não se limita a ver passar as serenas águas do Mondego. A Coimbra que se indigna e se insurge, que se revolta e ergue ante a opressão, dando a cara pelas grandes causas. Aquelas que são, afinal, as suas causas de sempre.
A semente mais antiga de que há memória, encontrada em Israel, no Palácio de Herodes, o Grande, germinou em 2005, com a provecta idade de 2000 anos. Continha, na sua natureza, qualquer coisa que resistiu a milénios de história, às guerras, às pestes, às intempéries e às crises, para germinar, enfim, numa tamareira frondosa. Quando assisto ao que assisti no último sábado, não consigo deixar de pensar que Coimbra é uma semente que se há-de cumprir. Tudo chega para quem sabe esperar.
terça-feira, 11 de maio de 2010
8 de Maio
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