Os partidos políticos em Portugal, pelo menos os chamados “partidos de poder”, desenvolveram uma técnica bizarra para ganhar eleições. Décadas a fio acostumados à alternância democrática – o “ora vais lá tu, ora vou lá eu” – convenceram-se de que esperar e esfregar as mãos é o caminho certo para voltar, uma e outra vez, ao poder.
É a perspectiva de quem acha que o poder é uma predestinação cósmica, pelo menos para o PS e para o PSD, pelo que não vale a pena gastar muito tempo a discutir quais as razões que levam o povo a não votar num ou no outro partido, em determinado momento histórico. Basta, pois, aguardar pacientemente na paragem do autocarro e esfregar as mãos para que não arrefeçam.
Em Coimbra, no contexto da campanha que há-de eleger o próximo presidente da Concelhia do PS, ouço muito falar em fim de ciclo, mas ouço pouco sobre o que há-de ser o ciclo seguinte. E confesso que me incomoda - que me entristece, até – esse discurso.
Ao PS Coimbra não basta comprazer-se com o suposto “fim de ciclo” PSD, coisa que ainda carece de comprovação. Como não lhe serve, desprestigia-o até, resignar-se à ideia – muito infeliz – de que as eleições se perdem, não se ganham. Eu, ao contrário do que tenho ouvido, ambiciono um PS Coimbra que, de facto, vença as eleições.
Que as vença porque foi capaz de fazer a contrição necessária, respeitando os cidadãos, tentando perceber em que é que falhou e emendando a mão, lá onde for necessário. É um mau começo olhar para as derrotas como momentos de sublime inustiça e desprezar a ponderação dos eleitores.
Que as vença porque tem um projecto mobilizador para Coimbra, capaz de convocar a maioria dos cidadãos e de os fazer acreditar numa nova cidade, correctamente ordenada, com oportunidades profissionais, um farol de cultura, merecedor do respeito de todos. Isto só se fará com organização e promovendo uma discussão séria. É perigoso insistir num programa do PS para o Concelho que apenas reproduza os clichés apressados das sucessivas eleições que perdemos.
Que as vença porque foi capaz de se reconciliar com os conimbricenses e, sobretudo, de recuperar a sua confiança. E isto é coisa que não se fará com proclamações estéreis, antes pela conduta diária dos socialistas de Coimbra, pela coerência que saibam ou não assumir, nos momentos decisivos.
Quem se pendurar no “fim de ciclo” para ganhar eleições, esfregando pacientemente as mãos na paragem do autocarro, habilita-se apenas ao que já sucedeu nos últimos dez anos: ficará apeado.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Esfregar as mãos…
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