O diagnóstico está feito. É o que se ouve nos muitos debates, mesas redondas, colóquios e outros momentos onde se vai reflectindo sobre Coimbra. No urbanismo e na cultura, na economia e no emprego, parecem estar alinhadas as ideias fundamentais. Grande parte, quer das fragilidades, quer das oportunidades, são conhecidas e vêm sendo enunciadas, semana após semana, mês após mês, ano após ano. Tarda, porém, a mudança necessária.
Na cultura, prevalece uma ideia de declínio, mesmo quando não comprovada pelos factos. A afirmação da nossa história colectiva, do nosso património, da excelência de muitos dos nossos agentes culturais, não parece bastante para que deixemos de nos medir com o vizinho do lado, sem nos sentirmos, de algum modo, diminuídos.
No urbanismo, todos os diagnósticos apontam para a necessidade de regenerar o Centro Histórico, não só na dimensão de recuperação do espaço construido, mas induzindo a sua transformação nas dimensões económicas e sociais, na promoção da qualidade da habitação e do ambiente urbano. Menos especulação, melhor ordenamento, num espírito mais inclusivo, é o que reclamam os tais diagnósticos, à espera de uma cidade segura e sustentável, com habitação digna e acessível para todos.
Na economia, não há quem não avance com a urgência de tirar maior proveito da universidade, incorporando tecnologia num novo tecido empresarial, um que possa absorver a mão-de-obra qualificada que, todos os anos, abandona a cidade. Havendo ainda os que defendem a necessidade de atrair investimento “puro e duro”, mesmo sem que a “benção” da universidade nos acalme o preconceito, aquele que Coimbra alimenta, há vários anos, em relação aos empresários de um modo geral.
Em qualquer dos casos, sobra em diagnóstico o que nos falta em solução. E Coimbra mantém-se, há anos sucessivos, contemplando os seus problemas, retida nessa espiral depressiva que, uma e outra vez, não leva a lado nenhum.
Às vezes, acho que não se avança porque, verdadeiramente, não se quer avançar. Porque se temem as consequências de uma mudança a sério na ordem estabelecida. A mudança necessária – no urbanismo e na economia, na cultura e na política, já agora – dá demasiado trabalho e ameaça, de modo particular, os mesmos de sempre. À mudança urgente, por vezes até radical, que nos faz falta, contrapõe-se, demasiadas vezes, “a mudança responsável”. Até quando?
Paulo Valério, hoje, no Jornal de Notícias
terça-feira, 20 de abril de 2010
Até quando?
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