Faz hoje, precisamente, uma semana, que se encheu o Café Santa Cruz em Coimbra. A noite não era de fados. Nem de porco no espeto ou de bifanas no pão. Pé ante pé, pelo seu próprio pé, os socialistas de Coimbra desceram à Baixa para discutir urbanismo e ambiente. E por ali estiveram, três horas consecutivas, sem sinal de enfado, à procura de como pode a nossa cidade ser "mais feliz". À saída, talvez não tivessem todas as respostas. Mas todos se sentiram, de alguma forma, mais perto delas.
Porque a noite não tinha sido de lugares comuns. Nem os convidados, nem a organização se perderam pelos caminhos, muito usuais, da correcção política. Não foi um debate de meias palavras, de ideias veladas ou de reservas mentais. Foi, podemos dizê-lo, uma noite clara. Da falta de planeamento à mera falta de gosto. Sobre a especulação em geral e sobre a corrupção em particular, pouco ficou por dizer. E semeou-se nos presentes a vontade de construir uma cidade nova.
Mas também porque fazia falta que alguém pusesse o debate na ordem do dia. Ou em primeiro lugar na ordem de trabalhos, para ser exacto.
É que há pequenas práticas, no seio dos partidos políticos, que em absoluto comprometem a sua missão. E uma delas é, creio, a insistência em colocar aquilo a que chamam "análise da situação política" como ponto último das reuniões.
Para quem não conhece o ritual, as reuniões partidárias começam sempre com, pelo menos, meia hora de atraso. Arrancam, depois, para mais meia hora de informações. Se tudo correr bem, o que não é comum, seguem para duas horas de estimulantes discussões estatutárias e regimentais. Até que, por fim, não havendo incidentes de maior, chegam ao seu ponto último: a quase sempre enigmática "análise da situação política". Claro que não se analisa coisa nenhuma. É tarde. A sala reduz-se a menos de metade. E a política fica adiada, para uma próxima oportunidade.
Em Coimbra, chegou a hora de regressar à política. E no que respeita ao urbanismo, resulta clara a necessidade de qualificar os novos bairros, revitalizar o centro histórico, melhorar as acessibilidades e valorizar, respeitando, os recursos naturais. Esta é, talvez, a primeira condição para uma cidade de oportunidades, que fixe a população e seja geradora de riqueza. A Coimbra com futuro, que o passado não soube cumprir.
terça-feira, 23 de março de 2010
Regressar à política
Etiquetas: Opinião